O bruxo do tempo - Ana Cláudia Lustosa
Era uma vez um bruxo chamado Temporeiro. Ele tinha um único poder, o da envelhecência, mas era temidíssimo, pois bastava alguém nascer e plim!, ele lançava o seu feitiço. Pés, mãos e pensamentos ficavam pesados, como que amarrados, iam perdendo o uso. No começo, ninguém sabia como lutar contra ele, e Temporeiro sempre vencia. Quando chegava a velhice, o sonho de todos era conseguir uma linda cadeira onde pudessem esperar a hora do trem para o reino do não-se-sabe-onde. Um dia, um homem chamado Jovial ouviu dizer que existia numa caverna um tal de Sr. Corridô, que tinha conseguido fugir do bruxo. Correndo. Sim, ele já tinha 83 anos e continuava correndo muito, todos os dias. Mas como era possível? Ele, Jovial, procuraria a resposta, pois não queria deixar de sonhar com balanços para sonhar com cadeiras.Então decidiu ir atrás do homem para descobrir o antídoto que ele havia usado. Caminhou por cidades, campos e montanhas, atravessou rios e mares. Esqueceu do tempo e viveu da vontade de chegar lá. Quando chegou, encontrou Seu Corridô. Olhou para ele e não acreditou no que via! Ele era tão jovem! E foi aí, tomado de espanto, que fez a pergunta: - Que fórmula mágica o senhor usa para se proteger? E Seu Corridô riu e disse: - Você já encontrou a resposta, meu filho. E apontou para o rio. Jovial não entendeu nada e ficou imaginando o que o rio tinha a ver com aquilo. Quando chegou bem perto, percebeu que ele também tinha envelhecido, mas continuava se sentindo como antes, jovem. Continuava sonhando com balanços, daqueles que voam tão alto que se pode enxergar o mundo todo! O mesmo sonho de quando era menino. Sentou-se por ali mesmo e pensou. Pensou no poder que tinha descoberto em si e resolveu que sairia pelo mundo distribuindo juventude. Afinal, ela estava dentro de cada um e bastava que, se tivesse um sonho, que fosse sempre atrás dele, e que se fizesse o que se gostava, para que mãos, pés ou pensamentos continuassem livres, prontos para voar. O mistério que Jovial desvendou ainda precisa ser desvendado por muitas pessoas dos tempos de hoje. Não é raro ouvir crianças reclamando que a vida dos adultos é muito chata e nem adultos gastando todas as suas economias para parecerem cada vez mais jovens. E o que é isso? É a falta de compreensão de que mudar e crescer pode ser muito legal, de que a velhice está, principalmente, na cabeça de cada um, e de que em qualquer tempo é possível se divertir muito, muito mesmo! Quer ter certeza disso? Então escolha uma pessoa que já viveu um tempão e bata um papo com ela! Vai ver o tanto de coisas que ela já aprendeu e o tanto que ainda quer aprender!
Ana Cláudia Lustosa é psicopedagoga do site Plenarinho.
sábado, 17 de outubro de 2009
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